A História Sombria das Mulheres, Bruxas e Cerveja

Originalmente, as mulheres dominavam a fabricação de cerveja, com evidências que datam de milênios atrás. Com o tempo, a profissão foi sendo tomada por homens, especialmente com o avanço do feudalismo e das leis de pureza alimentar. Durante a Idade Média, as mulheres produtoras de cerveja, ou "brewsters", passaram a ser associadas às bruxas devido a seus conhecimentos sobre ervas e a imagem peculiar que cultivavam nas tavernas. O artigo também discute como as mulheres estão retomando seu espaço na indústria cervejeira, resgatando tradições antigas e recuperando seu papel fundamental na produção dessa bebida.

5/9/20253 min ler

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Milhões de pessoas ao redor do mundo apreciam uma boa cerveja para relaxar após um longo dia. A cerveja é a terceira bebida mais consumida do mundo, ficando atrás apenas da água e do chá, e faz parte da dieta humana há pelo menos 7.000 anos. E, embora muitos de nós não sejamos grandes fãs da bebida, o estudo de sua história é fascinante. Especialmente durante o Mês da História das Mulheres, onde podemos perceber que a produção de cerveja tem, na verdade, raízes profundas no trabalho feminino.

As Mulheres e a Produção de Cerveja

Antigamente, a produção de cerveja era uma prática quase exclusivamente feminina. De acordo com arqueólogos que estudam a fermentação, a divisão de trabalho na sociedade antiga deixava as mulheres responsáveis pela coleta dos ingredientes e pelo preparo da bebida, enquanto os homens se dedicavam à caça. Evidências de fabricação de cerveja datam de pelo menos o quinto milênio a.C., na região da atual Irã, e a profissão de "alewife" (mulher que produzia cerveja) é mencionada na "Epopéia de Gilgamesh", a obra literária mais antiga conhecida.

No início, as mulheres dominaram a produção de cerveja em todo o território da Mesopotâmia, e esse cenário perdurou até o Império Romano, quando registros indicam que mais homens começaram a se envolver na produção de cerveja no Egito. Na Europa do Norte, as mulheres mantiveram um monopólio quase total da produção caseira de cerveja, especialmente na Escandinávia viking. Contudo, com o advento do feudalismo e da reestruturação social, esse domínio feminino foi diminuindo durante a Idade Média.

O Papel das Mulheres no Monastério

Apesar de a produção de cerveja começar a ser dominada pelos homens, as mulheres continuaram a desempenhar papéis importantes, especialmente nos mosteiros. A monja alemã e polímata, Santa Hildegarda de Bingen, foi uma das primeiras a recomendar o uso do lúpulo na produção de cerveja, destacando suas propriedades "curativas, amargantes e preservadoras", muito antes de outras pessoas fazerem essa descoberta.

Perseguições e a Perigosa Conexão com as Bruxas

No entanto, o que começou como uma ocupação respeitada para muitas mulheres, logo se transformou em um perigo iminente quando as perseguições a bruxas aumentaram na Europa. Durante a Idade Média, as "brewsters" (mulheres que produziam cerveja) tinham métodos inusitados de publicidade. Para se destacar nos mercados lotados, era comum usarem chapéus altos e pontudos, além de colocar vassouras nas portas das tavernas para indicar que o "brews" (cerveja) estava pronto. Cauldron (caldeirões) borbulhantes e estrelas de seis pontas também eram símbolos associados à qualidade das cervejas. E, como era necessário proteger os grãos contra os ratos, os gatos eram mantidos nas cervejarias, o que acabava reforçando a associação com bruxas.

Da Produção de Cerveja para a Inquisição

Embora a conexão entre a imagem das bruxas e as mulheres produtoras de cerveja seja óbvia, as razões para isso ainda geram debate. Alguns historiadores sugerem que, à medida que os padrões de qualidade para a cerveja começaram a ser estabelecidos no século XVI, muitas mulheres foram excluídas do mercado devido ao aumento dos custos de produção. Com o tempo, a indústria cervejeira foi monopolizada pelos homens.

Além disso, as mulheres que possuíam vasto conhecimento sobre como misturar ervas e plantas para criar poções curativas e saborosas eram especialmente vulneráveis às acusações de bruxaria durante o auge das inquisições. Como a produção de cerveja exigia esse tipo de conhecimento, não era difícil confundir uma "alewife" com uma bruxa, muitas vezes sem más intenções.

A Retomada do Mercado de Cerveja pelas Mulheres

O aumento da exclusão das mulheres na produção de cerveja no Ocidente se intensificou com a Lei de Pureza Alimentar, que forçou a produção a ser realizada em larga escala, fazendo com que a cerveja fosse monopolizada por grandes cervejarias masculinas. Em 1540, a cidade de Chester proibiu mulheres de 14 a 40 anos de exercerem a profissão de alewife, visando que a produção de cerveja fosse realizada por mulheres mais velhas.

Hoje, no entanto, as mulheres estão retomando seu espaço na indústria da cerveja. Em algumas partes da América Latina e da África, a produção de cerveja ainda permanece predominantemente nas mãos das mulheres. Agora, com menos medo de serem queimadas como bruxas, elas podem voltar a assumir o papel que desempenharam por séculos, trazendo de volta a tradição de suas ancestrais e fazendo a cerveja de uma maneira única.

Conclusão da Greenest

As mulheres sempre tiveram um papel importante na produção de cerveja, e enquanto, no Ocidente, essa prática foi dominada por homens ao longo dos séculos, a nova onda de mulheres retornando à indústria da cerveja resgata um legado que foi perdido com o tempo. E quem sabe, com a magia do lúpulo em suas mãos, essas mulheres podem criar algo verdadeiramente encantador nas cervejarias de hoje.